Para muitos jovens acreanos o nome Los Porongas, remete imediatamente ao fenômeno de maior projeção de todos os tempos do rock local a nível nacional. No entanto o rock, ou o rock moderno e pesado feito no Acre (Pop Rock, Heavy Metal, Punk Rock), começou na cidade de rio branco apartir de 1987, quando os ecos e as repercussões do Rock in Rio I, seguido pelos fenômenos comerciais; RPM e Legião Urbana passavam a ditar e exercer influência, estabelecendo uma identidade cultural com a juventude rio-branquense. Naquele ano a capital acreana e especialmente a praça plácido de castro, viu-se literalmente invadida por jovens cabeludos, trajando sempre camisetas pretas e patches com estampas, exibindo ídolos da musica rock, heavy metal, punk. Alguns, de cabeça raspada (carecas) trajando calças justas e rasgadas, com suspensórios e calçando coturno.Era a influencia estética e ideológica das subculturas Punk e Headbanger e que apartir daquele momento passavam a ser adotadas, proclamadas e levadas a termo por grupos de jovens da nossa capital, culminando com o surgimento de um bar temático o “Rockmania”, a criação de um fã clube de música pesada o “Rockmilitia” e formação da primeira banda autoral de Punk Rock Acreana; o lendário Kambio Negro. Tais fatos inspiraram os ativistas culturais e musico Narciso Augusto e Jorge Nazaré (em memória) a realizarem através da fundação cultural do acre, em dezembro de 1988, o primeiro festival reunindo bandas genuinamente de música rock em nossa capital o RB rock. Passados vinte anos e necessário recontar essa historia e mostrar os protagonistas e as idéias que se tornaram fatos.
Rockmania e Rockmilitia
A profunda falta de opções talvez conseqüência da crise política, econômica e social que se abateu sobre o país e principalmente na nossa capital, sobretudo na segunda metade dos anos 80 a chamada “década perdida” produziu efeitos paralisantes sobre a vida cultural não apenas em termos de carência de recursos para novos investimentos, mas também em termos de natureza psicossocial (um certo sentimento de negatividade e atraso a sensação de que “nada dá certo”) a soma desses acontecimentos gerava uma inquietação, essa juventude não se sentia adaptada a essa situação e pretendia muda-la.Da turma que se conheceu no ginásio do colégio meta anos atrás (1982) ainda permaneciam; Isleudo Portella, Mac Whisley (em memória), Jersey Diniz, Osman Zeque, William Manoel, Ideraldo, Rezende e Roney Mario. Entre essa moçada havia uma verdadeira adoração pela musica, alguns deles haviam se deslocado ate o rio de janeiro, viajando por ate cinco dias de ônibus só para ver os ídolos que iriam tocar no Rock in Rio e mesmo antes do festival acontecer, já se identificavam com essa musica e universo próprio. O rock então se firmava por exprimir, nos estridentes sons das guitarras, o grito de liberdade e identidade dessa geração, essa imensa vontade de mudar as coisas é que impulsiona a turma a montar um bar com proposta definida nasce então o Rockmania (que funcionava na Getulio Vargas) concomitante com um fã clube o Rockmilitia, as reuniões do fã clube quase sempre aconteciam no cacimbão da capoeira e eventualmente na casa do Isleudo, tanto o bar como o fã clube, proporcionava um intercambio com a juventude da cidade além de promover debates, apresentações de vídeos, filmes e shows inéditos (VHS), fanzine, audição de novos álbuns e bandas. Rapidamente o numero de fãs e adeptos foi crescendo, juntando-se ao grupo, novos roqueiros entre estes estavam; Jorge Anzol, Marcio Magrão, Marcio Bleiner, Adriano Rolhão (em memória), Ricardo (bobão), Kook (Carlos Eduardo), Tony, Kim May, Jeane, Alesandra, Zé Maria, Francynewton e Evileno... entre outros.
Kambio negro
O jornal de maior circulação da nossa capital na edição do dia 28 /12/1988, abria o seu caderno cultural com a seguinte manchete “Dois dias de muito rock no teatro recreio”, a reportagem trazia além da divulgação do RB rock; evento a realizar-se no cine teatro recreio, entre os dias 29 e 30 de dezembro, entrevista com as bandas que se apresentariam neste festival; Capù e Kambio Negro.Na referida entrevista os membros do KN lembravam das dificuldades de formar a banda e da expectativa em tocar no RB rock, evento que trazia também uma homenagem a Chico Mendes, assassinado havia poucos dias que antecederam o festival.
O KN nascera quando o baterista Jorge anzol, o baixista Rezende e o guitarrista paulistano Carlos Eduardo (Kook) freqüentemente se reuniam na praça plácido de castro e para diminuir o tédio, resolvem montar uma banda de punk rock. A primeira formação do grupo era; Jorge Anzol (Bv), Kook (Vg), Rezende (Cb) e Jorge Henrique (Gb),nesse período a banda intitulava-se Degenerados.Após algum tempo, Jorge Henrique, deixa a banda optando pelo teatro, em seguida veio a segunda mudança Kook deixa o grupo, e Jorge anzol e Ronaldo spock (que já havia sido efetivado no grupo) passam a dividir os vocais, a banda passa a ser um power trio com; Jorge Anzol, Rezende e Ronaldo Spock, já com o nome de Kambio Negro. O primeiro manifesto punk no acre, foi cogumelo da morte letra do baterista Jorge anzol e musica de Kook, Jorge Anzol e Rezende. O minimalismo da musica captava o espírito da época; ‘’faça você mesmo ‘’ estilo básico da estética punk rock, guitarra –baixo-bateria, vocais e os três acordes tocados o mais primitivamente possível. Após cogumelo da morte seguiram-se outras composições; RB cidade do tédio, Nova Republica, País de aluguel e as releituras de Tempo Perdido (Legião Urbana) e Miseráveis Ovelhas (Garotos Podres), faziam parte do repertorio da banda.Após o RB rock a banda experimentou a fama local tendo um publico ativo e cativo nas suas apresentações e ensaios.
De repente uma verdadeira febre de rock se generaliza entre a moçada da capital, evidenciando uma cena musical na cidade e o surgimento de bandas como; Eternamente, Concreto Armado, Vírus 27.O rockmilitia funde-se com o estúdio P e transforma-se em loja especializada e produtora de eventos promovendo em 1989, o Estúdio P Rock Show, primeiro festival de rock realizado de forma independente na capital.
Nos anos que se seguiram, sobretudo no decorrer da década de 1990 a cidade vivenciou um movimento cultural de massa, expresso na emergência de diversas bandas e em diversos seguimentos; Bumerangue Blues, Ethos Tribal, Darkness, Radicais Livres, The Mad Pig Melodies, Fire Angel, Encruzilhada Blues, THC, Zacraff, Estação Zen, Stigma, Ponto G, Mapinguari Blues; no supercrescimento de publico e adeptos proporcionando o surgimento de lojas especializadas (Estúdio P, Zeppelin, Sound, Rock Kids) e na realização de festivais alternativos, mas esta é uma outra historia.
Hoje o rock acreano ganhou as páginas e a telinha dos programas e da critica especializada, a nível nacional, mas aqueles jovens em 1987 acenderam a chama que se perpetua até hoje, seja no som do Los Porongas, nas bandas de rock pesado ou na cena de rock atual.
Rezende Fernandes Gouvêa graduado em Ciências Sociais.
sábado, 3 de outubro de 2009
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