sábado, 3 de outubro de 2009

Revoluções da minha geração

Para muitos jovens acreanos o nome Los Porongas, remete imediatamente ao fenômeno de maior projeção de todos os tempos do rock local a nível nacional. No entanto o rock, ou o rock moderno e pesado feito no Acre (Pop Rock, Heavy Metal, Punk Rock), começou na cidade de rio branco apartir de 1987, quando os ecos e as repercussões do Rock in Rio I, seguido pelos fenômenos comerciais; RPM e Legião Urbana passavam a ditar e exercer influência, estabelecendo uma identidade cultural com a juventude rio-branquense. Naquele ano a capital acreana e especialmente a praça plácido de castro, viu-se literalmente invadida por jovens cabeludos, trajando sempre camisetas pretas e patches com estampas, exibindo ídolos da musica rock, heavy metal, punk. Alguns, de cabeça raspada (carecas) trajando calças justas e rasgadas, com suspensórios e calçando coturno.Era a influencia estética e ideológica das subculturas Punk e Headbanger e que apartir daquele momento passavam a ser adotadas, proclamadas e levadas a termo por grupos de jovens da nossa capital, culminando com o surgimento de um bar temático o “Rockmania”, a criação de um fã clube de música pesada o “Rockmilitia” e formação da primeira banda autoral de Punk Rock Acreana; o lendário Kambio Negro. Tais fatos inspiraram os ativistas culturais e musico Narciso Augusto e Jorge Nazaré (em memória) a realizarem através da fundação cultural do acre, em dezembro de 1988, o primeiro festival reunindo bandas genuinamente de música rock em nossa capital o RB rock. Passados vinte anos e necessário recontar essa historia e mostrar os protagonistas e as idéias que se tornaram fatos.



Rockmania e Rockmilitia



A profunda falta de opções talvez conseqüência da crise política, econômica e social que se abateu sobre o país e principalmente na nossa capital, sobretudo na segunda metade dos anos 80 a chamada “década perdida” produziu efeitos paralisantes sobre a vida cultural não apenas em termos de carência de recursos para novos investimentos, mas também em termos de natureza psicossocial (um certo sentimento de negatividade e atraso a sensação de que “nada dá certo”) a soma desses acontecimentos gerava uma inquietação, essa juventude não se sentia adaptada a essa situação e pretendia muda-la.Da turma que se conheceu no ginásio do colégio meta anos atrás (1982) ainda permaneciam; Isleudo Portella, Mac Whisley (em memória), Jersey Diniz, Osman Zeque, William Manoel, Ideraldo, Rezende e Roney Mario. Entre essa moçada havia uma verdadeira adoração pela musica, alguns deles haviam se deslocado ate o rio de janeiro, viajando por ate cinco dias de ônibus só para ver os ídolos que iriam tocar no Rock in Rio e mesmo antes do festival acontecer, já se identificavam com essa musica e universo próprio. O rock então se firmava por exprimir, nos estridentes sons das guitarras, o grito de liberdade e identidade dessa geração, essa imensa vontade de mudar as coisas é que impulsiona a turma a montar um bar com proposta definida nasce então o Rockmania (que funcionava na Getulio Vargas) concomitante com um fã clube o Rockmilitia, as reuniões do fã clube quase sempre aconteciam no cacimbão da capoeira e eventualmente na casa do Isleudo, tanto o bar como o fã clube, proporcionava um intercambio com a juventude da cidade além de promover debates, apresentações de vídeos, filmes e shows inéditos (VHS), fanzine, audição de novos álbuns e bandas. Rapidamente o numero de fãs e adeptos foi crescendo, juntando-se ao grupo, novos roqueiros entre estes estavam; Jorge Anzol, Marcio Magrão, Marcio Bleiner, Adriano Rolhão (em memória), Ricardo (bobão), Kook (Carlos Eduardo), Tony, Kim May, Jeane, Alesandra, Zé Maria, Francynewton e Evileno... entre outros.

Kambio negro


O jornal de maior circulação da nossa capital na edição do dia 28 /12/1988, abria o seu caderno cultural com a seguinte manchete “Dois dias de muito rock no teatro recreio”, a reportagem trazia além da divulgação do RB rock; evento a realizar-se no cine teatro recreio, entre os dias 29 e 30 de dezembro, entrevista com as bandas que se apresentariam neste festival; Capù e Kambio Negro.Na referida entrevista os membros do KN lembravam das dificuldades de formar a banda e da expectativa em tocar no RB rock, evento que trazia também uma homenagem a Chico Mendes, assassinado havia poucos dias que antecederam o festival.

O KN nascera quando o baterista Jorge anzol, o baixista Rezende e o guitarrista paulistano Carlos Eduardo (Kook) freqüentemente se reuniam na praça plácido de castro e para diminuir o tédio, resolvem montar uma banda de punk rock. A primeira formação do grupo era; Jorge Anzol (Bv), Kook (Vg), Rezende (Cb) e Jorge Henrique (Gb),nesse período a banda intitulava-se Degenerados.Após algum tempo, Jorge Henrique, deixa a banda optando pelo teatro, em seguida veio a segunda mudança Kook deixa o grupo, e Jorge anzol e Ronaldo spock (que já havia sido efetivado no grupo) passam a dividir os vocais, a banda passa a ser um power trio com; Jorge Anzol, Rezende e Ronaldo Spock, já com o nome de Kambio Negro. O primeiro manifesto punk no acre, foi cogumelo da morte letra do baterista Jorge anzol e musica de Kook, Jorge Anzol e Rezende. O minimalismo da musica captava o espírito da época; ‘’faça você mesmo ‘’ estilo básico da estética punk rock, guitarra –baixo-bateria, vocais e os três acordes tocados o mais primitivamente possível. Após cogumelo da morte seguiram-se outras composições; RB cidade do tédio, Nova Republica, País de aluguel e as releituras de Tempo Perdido (Legião Urbana) e Miseráveis Ovelhas (Garotos Podres), faziam parte do repertorio da banda.Após o RB rock a banda experimentou a fama local tendo um publico ativo e cativo nas suas apresentações e ensaios.

De repente uma verdadeira febre de rock se generaliza entre a moçada da capital, evidenciando uma cena musical na cidade e o surgimento de bandas como; Eternamente, Concreto Armado, Vírus 27.O rockmilitia funde-se com o estúdio P e transforma-se em loja especializada e produtora de eventos promovendo em 1989, o Estúdio P Rock Show, primeiro festival de rock realizado de forma independente na capital.

Nos anos que se seguiram, sobretudo no decorrer da década de 1990 a cidade vivenciou um movimento cultural de massa, expresso na emergência de diversas bandas e em diversos seguimentos; Bumerangue Blues, Ethos Tribal, Darkness, Radicais Livres, The Mad Pig Melodies, Fire Angel, Encruzilhada Blues, THC, Zacraff, Estação Zen, Stigma, Ponto G, Mapinguari Blues; no supercrescimento de publico e adeptos proporcionando o surgimento de lojas especializadas (Estúdio P, Zeppelin, Sound, Rock Kids) e na realização de festivais alternativos, mas esta é uma outra historia.

Hoje o rock acreano ganhou as páginas e a telinha dos programas e da critica especializada, a nível nacional, mas aqueles jovens em 1987 acenderam a chama que se perpetua até hoje, seja no som do Los Porongas, nas bandas de rock pesado ou na cena de rock atual.



Rezende Fernandes Gouvêa  graduado em Ciências Sociais.